Luciano [Alabarse], mano,
Tua resposta veio tão rápida. Li no portão, enquanto esperava o táxi que trazia o Tuio Franco da Rodoviária, hoje à tarde. Por sinal, na baratinação da chegada, perdi a carta – mas tenho na cabeça. É linda. Linda e sábia. Agora são 23h 30min. Nana está cantando "vida, então, me diz/ em que parte do amor me perdi?" – tenho um Marlboro aceso e um Domecq quase no fim. Tuio saiu com os amigos. Trabalhei, trabalhei. Página sobre literatura brasileira para o Around – destaque para Lya e João Gilberto.
Luciano Alabarse: eis senão que estou ótimo. Resgatei as granas trancadas da SBAT, entreguei minha história para Regina – ficou, na minha opinião, um barato: humana, engraçada, inteligente, sensual, carinhosa - , não trepo há uma semana, leio, durmo, como, direitinho. Tem uma felicidade mansa por dentro, devagarinho. A casa bonita. Os dias bonitos. A roseira bonita. E pessoas novas (tem coisa melhor que gente?). E trabalhos novos (breve a cores). Guardo o meu amor por dentro. É precioso. Pensar nele faz com que eu tenha vontade de cuidar de mim mesmo – então é bom. Guardando, guardando, feito jóia. Precioso, delicado. Meus dias têm sido claros. Lembro de um velho samba-canção: "Eu não peço nem quero / para o meu coração / nada mais que uma linda ilusão". Supersábio. Joguei I Ching lindo hoje, bem na hora da minha Revolução Lunar, 14 graus de Capricórnio. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa. Estou em fase de reintegração. Leio um Bukowski novo: não quero. O inverno de Sampa é doce, doce. Amanhã chega Grace. Me convidaram pruma noite de autógrafos em Curitiba.
Te quero ver feliz, te quero ver sem melancolia nenhuma. (Mas que direito tenho de opinar sobre teus adentros, companheiro?)Escrevi semana passada ríspido para Luiz Arthur, sobre comentários irônicos feitos sobre Reunião por pessoas de Porto, em New York. Respondeu doce, ontem, declarando-se enciumado sobre meu trabalho contigo. Fiquei todo melado. Este parágrafo acima é na linha fofocas-de-província. Hoje não estou sentindo falta nenhuma de Porto. Nem de lugar nenhum que não aqui. Estou centrado na minha mesa desde cedo. Tuio encheu a casa – velho amigo, tem coisa melhor que velho amigo? – de outra vibração humana que não a minha.
Hoje estou pensando que ter amado meio torto durante tanto tempo talvez esteja me conduzindo a algo mais claro? É uma dúvida que te coloco. E sinto coisas tão boas, Luciano, ondas de energia claras que me sobem Kundalini acima – e então penso que está certo assim, na nossa sede infinita (Drummond) acreditar e levar porrada mas voltar a acreditar e cair do cavalo e não deixar de acreditar e se desenganar e se arrebentar mas continuar acreditando que, de alguma forma, há alguma resposta de humano para humano. E que amar o humano do outro é aceitar e amar teu próprio humano, e que esse é o único jeito, o único way-out possível: procurar no humano do outro a saída do nosso próprio humano sem solução. E na minha memória, amar os pés nus do meu amor na minha blusa roxa. Ou o beijo na boca na escadaria. E pouco importar que tudo tenha sido ou continue sendo fantasia ou carência, porque é assim que as coisas são, e é através disso – e só disso, venusiano total – que posso crescer, e então quero crescer, e não me importo nem um pouco de voltar e acreditar e de ficar todo acesso e mais delicado para olhar as coisas, qualquer coisa. Na minha lápide, quero alguma coisa mais ou menos assim: "Caio F. – que muito amou." And that's it.
Amanhã vou ao lançamento de meu amigo Dau Bastos – leia Das Trips, Coração, por favor, leia. E leia antes Pergunte ao Pó, do John Fante. E beije Reunião por mim, diga que sinto carinho, que tenho saudade, que Maluf não vai subir ao poder e conquistaremos mais umas 10 medalhas de ouro. Se pintar, e não pintará, nem precisa, diga ao teu amigo que agradeço-muito, agradeço-tanto-por-você-não-ter-me-dado-seu-amor, senão este outro momento não existiria. E estou bêbado dentro dele. Inteiro. Supermereço: eu o conquistei. Te amo muito. Hoje, ainda mais intensamente, the old.
Caio F.
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